Hugo Tosi

Data: 00/00/2007

Dr. HUGO TOSI 

Professor titular UNESP Jaboticabal Os cavalos são herbívoros, com trato digestivo simples e ceco funcional. Nesse compartimento que apresenta grande volume e que faz parte do intestino grosso, ocorre a digestão da fração fibrosa dos alimentos com razoável eficiência.
Em razão das suas características anatômicas, os cavalos podem se manter, crescer, reproduzir e trabalhar, consumindo apenas alimentos volumosos de boa qualidade (conteúdo baixo ou moderado de fibra bruta), sem qualquer limitação de quantidade.
Para incrementar a performance de crescimento, reprodução e trabalho, o homem passou a fornecer alimentos concentrados (milho, aveia, cevada, farelo de soja, etc), melhorando a qualidade da dieta dos cavalos em caráter permanente, durante as diferentes estações do ano, de modo a eliminar ou minimizar os déficits nutricionais no período de estiagem, quando as pastagens se tornam mais pobres em nutrientes.
O milho tem como origem o continente americano, não era conhecido na Europa. Hoje é produzido e utilizado no mundo inteiro. No continente europeu, a aveia era o cereal mais utilizado na alimentação dos cavalos antes do descobrimento da América, desde que o trigo era o cereal preferido pelo homem para a sua própria alimentação e a aveia tinha pouca utilidade.
A diferença fundamental entre o milho e a aveia se relaciona ao teor de fibra bruta, respectivamente de 2,25% e 11,50%. Para manutenção do transito digestivo normal, é necessário fornecer dietas com no mínimo 8 a 10% de fibra bruta, com teores bem menores ou exageradamente maiores há o risco da ocorrência de cólica. Portanto a aveia com 11,50% de fibra bruta, sem
qualquer duvida é o ingrediente ideal para a alimentação
dos cavalos.
Por outro lado o milho é o cereal de maior produtividade agrícola, de mais baixo custo e o de maior teor de energia, assim é empregado em larga escala na industria animal. Rico em carboidratos, sobretudo amido (composto de amilose 30% e amilopectina70%), precursor da glicose, principal fonte de energia do cavalo.
O milho contém entre 3,28 e 3,68% de lipídeos, representados principalmente pelos ácidos graxos Palmítico (14%), Oléico (35%), Linolêico (44%), também conhecido como W6 e Linolênico (2%). Este último tem sido objeto das mais recentes pesquisas em nutrição eqüina e presente em boa quantidade no óleo de linhaça.
O óleo de milho, pelo seu alto conteúdo em ácidos graxos insaturados essências, é a melhor fonte de lipídeos a ser adicionada as rações de eqüídeos para melhorar o nível energético e a performance de animais atletas de qualquer modalidade esportiva.
Com relação a proteína, o teor é de apenas 8,5% na matéria original, representado pela zeína, que é encontrada principalmente no endosperma, e não é considerada de boa qualidade, pois é pobre em aminoácidos essenciais como a LISINA (0,23%) e o TRIPTOFANO (0,08%). A carência de lisina limita o crescimento dos potros, que necessitam de 0,65% na
dieta para pleno crescimento.
O conteúdo de Cálcio (0,02%) e de Fósforo (0,27%), é inadequado para nutrição do cavalo, tanto em quantidade como em equilíbrio. A relação ideal aproxima-se de 2:1, portanto é preciso corrigir o imbalanço e suprir a dieta com boas fontes desses dois importantes macrominerias para evitar o surgimento de osteodistrofias do tipo “cara inchada”, epifizite, osteocondrose e outras.
O milho deve apresentar uma cor amarela e um brilho característico, pois contem os pigmentos xantofila e caroteno, este último conhecido como provitamina A.
Alem disso deve apresentar uma quantidade muito reduzida de grãos defeituosos, como quebrados, brotados e ardidos (escuros), chochos e carunchados, sempre com sério prejuízo no valor nutritivo do alimento e portador de importantes toxinas de origem fúngica, que podem provocar cólicas e mesmo levar o animal a óbito .
O milho pode ser utilizado com grão inteiro ou processado na alimentação animal. Por possuir um sistema dentário possante e completo o cavalo adulto consegue aproveitar muito bem o grão integro, todavia tal fato não ocorre com os potros e os idosos que tem menor número de dentes e já não tem a mesma potência para mastigação. O milho inteiro tem uma
película externa chamada pericarpo, que o protege ao
longo do tempo contra o ataque de agentes indesejáveis, tais como fungos bactérias e carunchos ávidos em consumir seu conteúdo interno rico e substâncias energéticas.
O milho pode ser processado de diferentes formas, com o objetivo de melhorar seu aproveitamento, ao possibilitar um maior contato dos nutrientes com as enzimas e um aumento na digestibilidade.
O processamento industrial mais simples é a moagem em moinhos de martelo com peneiras adequadas para obtenção de um alimento com textura não muito fina, que demandaria maior gasto de tempo e energia para produção e com excesso de pó, inadequado para consumo animal e inclusive prejudicial a digestibilidade em decorrência da maior velocidade de passagem pelo trato digestivo. Em outras palavras é preferível uma quirera do que um fubá muito fino.
Os modernos processos industriais do milho podem ser: laminação, floculação ou extrusão. O amido, é um polissacarídeo (polímero de glicose), constituído por grânulos semicristalinos revestidos por uma dura capa de proteína, que dificulta a digestão enzimática.Os processos industriais visam provocar a ruptura ou o desarranjo dessa estrutura, através da hidratação e uso de vapor e posterior passagem por condicionadores para achatar ou laminar o grão de milho, no caso da laminação e por cilindros de compressão no caso da floculação, respectivamente.
O processo mais eficiente é a extrusão, ( ao contrario da peletização que provoca a compactação e o aumento da densidade da ração), cujo objetivo é promover a expansão (ou explosão) do grão de amido e dos demais ingredientes da ração. Sob pressão e vapor (elevada temperatura) e passagem por uma matriz, ocorre a gelatinização do amido,fato que facilita a ação das enzimas amilolíticas e a ração se torna menos densa, característica que é muito favorável ao processo
digestivo gástrico do cavalo.
Pelo exposto, nota-se que o milho é um cereal nobre,
desejável e útil para compor rações para eqüinos,
todavia deve ser processado e complementado com
outros ingredientes para corrigir as suas carências
nutricionais.